Aula 5º - Como dar vida aos personagens parte 2

30/12/2010 16:21

 

Muito bem, então você criou seus personagens e os conhece melhor do que ninguém! Sabe a vida deles, as manias, as paixões... 

Parabéns, você sabe exatamente como eles serão no princípio da história. E agora?

Existem dois tipos de personagens: os planos e os esféricos. E, logicamente, com isso eu não quero dizer “existem os magros e os gordos”. Dã.

Personagens planos são aqueles cuja personalidade é definida no começo da história e assim permanece. Se você criou uma mocinha boazinha, delicada e gentil, ela será boazinha, delicada e gentil até o fim. Esses tipos de personagens são muito comuns em vilões – eles são maus do início ao fim, com uma grande frequência.

Personagens esféricos, como dá para deduzir, são aqueles que vão evoluindo e mudando no decorrer da história. Por exemplo, muitas histórias que começam contando a infância do personagem até a vida adulta costumam mostrar as diferenças entre a criança e o adulto.

O que é melhor?

Nenhum dos dois é melhor ou pior. Algumas pessoas (inclusive um professor) já chegaram a dizer que personagens esféricos são muito mais complexos de se fazer do que os planos, já que você tem de trabalhar todo o aspecto psicológico que vai mudando do personagem. Mas não é bem assim!

Eu não sei qual a experiência de vocês no assunto, ou o quanto notam de mudança dos seus personagens; mas eu acho muito complicado manter o mesmo personagem do início ao fim! Até porque, quando começamos uma história, temos uma expectativa, um roteiro em mente. Mas, no decorrer dela, percebemos que uma coisa ou outra vai ter de mudar e, em muitos casos, terminamos a história de uma maneira completamente diferente do que começamos! Como é que vamos manter os mesmos personagens com roteiros são diferentes?

Eles tem de se adaptar, evoluir junto com o texto. Até porque o autor que começa a história não é o mesmo que a termina (não se preocupem, não vão ser usurpados. O que eu quis dizer é que vocês evoluem também!). 

O que se tem de tomar cuidado é para não fixar na mente: “meu personagem tem de mudar, ele tem de evoluir e ficar melhor...”

Mudar e evoluir não significam ficar melhores. Pense numa história que comece com tudo sendo flores; aí você decide matar todos os melhores amigos do(a) mocinho(a), fazendo com que ele(a) queira se vingar do assassino e, quando termina, foi uma chacina total e a vida dele(a) nunca mais será a mesma. Não dá para dizer que essa personagem mudou para melhor, dá?

E outra coisa: quem disse que é melhor o autor que escreve personagens esféricos? Dependendo da proposta da história, personagens planos são muito mais adequados! E na mesma história dá para usar os dois, que é o que acontece muito quando escrevo: uns evoluem, outros não.

O que acontece com os personagens planos, geralmente, é que eles são separados em duas categorias: bons e maus. Isso se chama MANIQUEÍSMO (uma boa palavra para acrescentar ao caderno de vocabulário), e é muito comum ter uma visão maniqueísta nas histórias. Afinal, toda boa história tem um vilão e um mocinho, certo?

Errado!

Nem toda história precisa ter um heroi perfeito e um alguém maléfico que quer arruinar (ou acabar com) a vida do mocinho. Em alguns livros muito famosos, o mocinho mesmo é o antiheroi! Como isso?

Simples: ele não é a pessoa perfeita. Ele tem qualidades, mas fez escolhas erradas e acabou se tornando uma pessoa não muito querida na sociedade. Exemplo disso são os livros Memórias de um Sargento de Milícias e Artemis Fowl (o Artemis é um exemplo de personagem esférico).

Mas só porque eles são ladrões irremediáveis ou frios como pedra, não significa que nós não os amemos incondicionalmente! Sim, devo confessar minha paixão por Artemis Fowl... ele é o ladrão maníaco mais querido que há! (na minha não muito confiável opinião XD)

Dá para fazer um mocinho super “do mal” que de vez em quando não é tão maléfico assim. E as pessoas continuam querendo que eles se deem bem no final, mesmo que sejam completamente pirados. Cada boa ação feita por esses antiherois é coroada por enormes sorrisos de “eu sabia que ele não era tão mau assim” dos leitores. Acredite, é verdade.

E dá para fazer ainda um vilão bonzinho que vai ser igualmente amado pelos fãs. Quem leu O Senhor dos Ladrões deve ter simpatizado com o detetive que deveria trazer de volta Bo e Próspero!

Então, na próxima Fiction que você escrever, dê uma pensada: como é que eu quero que meu personagem seja? Plano ou esférico?

Mas nem adianta planejar muito – os personagens acabam mudando (ou não) por conta própria. Escreva e eles farão o resto!

A lição de hoje não vai ter questões de treino, mas ficam as dicas de hoje, hein! Lembrem-se disso na próxima vez em que começarem uma história. 

Ah, uma dica extra:

Personagens planos são melhores para histórias com comédia.

Já os esféricos são bons para histórias com drama ou conflitos psicológicos de qualquer espécie.

Fonte:Animespirit